Subiu a cortina

Caro leitor,

Seja bem vindo ao mundo das cordas, madeiras e metais. Aqui você encontrará minhas impressões sobre diversos concertos de música erudita realizados na cidade do Rio de Janeiro. Também compartilhará dos meus devaneios sobre o mundo dos clássicos e algumas dicas de programas, filmes e discos. Só peço a cortesia de fazerem silêncio durante o concerto (e nada de ficar desembrulhando balinhas). Obrigada!

domingo, 31 de março de 2013

Nibelungos desencontrados

Para os amantes da sétima arte, a série Música e Imagem do Theatro Municipal do Rio de Janeiro é um prato cheio. No telão, que toma o palco inteiro, são projetados clássicos do cinema mudo enquanto a Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal (OSTM) toca suas maravilhosas trilhas sonoras em grande estilo! É uma experiência cinematográfica sem igual.



Este ano, o título escolhido foi Os Nibelungos - a morte de Siegfried de Fritz Lang, em homenagem aos 200 anos de Wagner que compôs um ciclo de quatro óperas sobre o mesmo tema. A trilha sonora, no entanto, não é de Wagner (a bobinha aqui, por um momento, achou que fosse) e sim de Gottfried Huppertz, o mesmo de Metrópolis. Para citar o programa e o maestro Silvio Viegas, a composição é "densa, caracterizada por sonoridades brilhantes, grandiosas, que se ajusta com perfeição à estética expressionista do filme. (...) Huppertz faz uso de Leitmotivs, assim como Wagner." O que isso quer dizer? Não sei ao certo, mas a música de fato combina muito bem com a ação, trazendo cor à película preto e branca além de também ser responsável por diversos efeitos sonoros ao longo do filme. 

Por isso, foi uma lástima que um defeito no projetor, na noite de quinta-feira, tenha prejudicado a sincronia entre a orquestra e o filme, o que também acabou atrapalhando o desempenho dos músicos em alguns trechos. A peça já é um desafio de ser tocada ao vivo e ainda jogaram um dragão no meio do fosso! Músicos e maestro lutaram bravamente como um exército de Siegfrieds mas todo herói tem um ponto vulnerável. Pena que, justo na noite do cinema, o inimigo tenha partido da imagem... 

Falhas técnicas à parte, Os Nibelungos merece a fama que tem. Além de contar com efeitos especiais impressionantes para a época da produção (1924), ele capricha nos cenários, maquiagem e edição. A atuação, para padrões atuais, é cômica, com muita sobrancelha e posturas corporais inverossímeis mas os personagens são cativantes e envolventes graças a uma trama milenar. Se eu fosse alemã, teria muito orgulho dessa obra, que foi elaborada como um presente para reconstruir a auto-estima de um povo arrasado pela Primeira Guerra Mundial. 

Poemas épicos como Os Nibelungos, A Ilíada, Gilgamesh, Mahabharata, Beowulf e tantos outros escritos ao redor do mundo sempre abordam os mesmos aspectos da natureza humana e nenhum é lá muito lisonjeiro. Traição, mentira, orgulho, ganância parecem estar entranhados nas nossas relações e na nossa arte desde os tempos mais remotos, nos quatro cantos do mundo. Mas não há necessidade de se banhar no sangue de dragão para encarar a saga do dia a dia. Basta "fechar o corpo" com boa música e uma ótima companhia.


Um comentário:

  1. arrasou minha querida !!! a luta que tivemos na primeira parte do filme foi terrível !!! só faltou o dragao saltar da tela e invadir o fosso !!! rsrsrsrs... valeu...bravo !!! adorei o texto ...bjs .

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