Subiu a cortina

Caro leitor,

Seja bem vindo ao mundo das cordas, madeiras e metais. Aqui você encontrará minhas impressões sobre diversos concertos de música erudita realizados na cidade do Rio de Janeiro. Também compartilhará dos meus devaneios sobre o mundo dos clássicos e algumas dicas de programas, filmes e discos. Só peço a cortesia de fazerem silêncio durante o concerto (e nada de ficar desembrulhando balinhas). Obrigada!

sábado, 4 de maio de 2013

Manual para platéia

Ser músico não é nada fácil, mas ser platéia também tem lá seus desafios. Muitos iniciantes na música de concerto ficam preocupados com algumas regras de etiqueta do meio. Quantos sinais soam antes de iniciar o espetáculo? Quando devo bater palmas? Posso gritar "uhuuuu!"? Adianto logo que a preocupação é descabida. Na grande sala do Theatro Municipal, valem as mesmas regras de educação aplicáveis ao cinema, à sala de aula ou à sua própria casa.

A pessoa que está sobre o palco (ou no fosso) estudou e ensaiou muito para poder se apresentar para você. A pessoa que está do seu lado quer ter a oportunidade de desfrutar do deleite da boa música em um ambiente tão especial. Lembre sempre que você não está sozinho e que você pode sim atrapalhar a experiência daqueles em sua volta, transformando uma noite mágica em uma grande decepção. Respeitar o próximo e ter consideração pelos artistas que estão trabalhando parece ser uma lógica bastante simples mas o que não falta nas salas de concerto do Rio é platéia mal educada.

No intuito de contribuir para a formação de um público melhor para a música clássica, segue um mini-manual para o frequentador das salas de concerto. São cinco regras bem básicas que vão evitar que eu fique olhando feio para você durante uma récita.

1. Chegue na hora.
O trânsito do Rio é imprevisível, principalmente durante a semana, no final do horário comercial. Por isso, saia com antecedência de casa ou do trabalho para não correr o risco de chegar atrasado. Os espetáculos de música clássica costumam ser bem pontuais e o Theatro Municipal ainda fecha os portões depois do horário marcado e não adianta pestanejar. Quem não chega na hora, só entra na sala durante o intervalo.

Dentro do Theatro, o sistema de sinal evita que retardatários atrapalhem a concentração dos músicos e do público (sim, o seu vulto pedindo licença e correndo na frente do palco atrapalha pacas - mesmo que você se encolha todo). Primeiro sinal: fique atento, pois o espetáculo já vai começar (ou recomeçar depois do intervalo). Segundo sinal: retorne ao seu lugar. Terceiro sinal: sente-se e divirta-se.

2. Nada de balinha!
Recital de violoncelo e piano. O cellista começa a tocar baixinho, de olhos fechados, super concentrado. A melodia é delicada, melancólica e você começa a viajar para além das paredes da sala. Eis que um manezão resolve chupar um tic-tac ou uma balinha envolta em plástico, daqueles bem barulhentos para desenrolar, e resolve virar percussionista. Parece que esse zé ruela espera exatamente o momento mais pianissimo possível para refrescar o seu bafo, o que desperta os meus instintos mais assassinos. PELAMORDEDEUS espere o intervalo, o fim da peça, a pausa entre movimentos ou um momento mais enérgico da música para pegar a *#$@¨* da bala!!!

3. Desligue o celular.
Eu não deveria precisar explicar essa, mas tem gente que ainda não entendeu. Pior do que aquele que deixa o celular ligado durante um concerto é aquele que atende e ainda bate papo! Celular que toca no meio de uma récita é o pior dos micos (e quanto mais excêntrico for o seu toque, pior) portanto desligue o seu aparelho. Se você for médico, deixe no vibracall mas, se ele tocar, por favor atenda fora da sala.

4. Palmas só no final da peça.
Maior tabu dos frequentadores de concertos e preocupação número 1 dos novatos é o momento correto das palmas. Diferentemente de um show de rock ou jazz, a gente não costuma bater palma no meio de uma peça erudita. Um dos motivos é para não quebrar a concentração do intérprete. Outro é para que você não perca as notas que estão sendo encobertas pelas suas palmas. Portanto, espere a peça acabar.

Como saber que a peça acabou? Veja no programa de quantos movimentos é composta a obra sendo executada e aí é só contar e bater palmas após o último movimento (isso, assumindo que você gostou, é claro). Se for um recital, a dica é prestar atenção ao solista pois ele só relaxa quando a peça acaba. O mesmo vale para o maestro com música de orquestra. No Rio de Janeiro ainda tem mais um jeito de saber a hora de aplaudir os músicos: esperar o infalível (e nem sempre apreciado) grito de "maravilha!" sendo entoado por um frequentador assíduo, interrompendo o pairar da última nota.

5. O silêncio é de ouro.
A música é uma das coisas mais bonitas que o ser humano é capaz de produzir. Ela tem um poder de transformação assombroso e a música clássica tem entre os seus criadores e intérpretes os verdadeiros magos e feiticeiros desse mundo. No entanto, "esse tipo de música" requer um pano de fundo muito específico para atingir todo o seu potencial: o silêncio.

Qualquer interferência nesse pano de fundo rouba a atenção da obra prima em primeiro plano e corta o feitiço. Por isso, evite movimentos que fazem a cadeira ranger, jóias com penduricalhos tipo chocalhos, conversas desnecessárias no meio da música, leques barulhentos, abrir bolsas com ziper, e qualquer outra atividade ou objeto que provoque som. Além de evitar que eu sinta vontade de te jogar de cima do balcão (ninguém precisa desse tipo de energia negativa, né?), você também apreciará melhor a obra de arte sendo criada diante dos seus olhos e ouvidos. O silêncio interno também ajuda, mas isso aí é assunto para outro dia...

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