Subiu a cortina

Caro leitor,

Seja bem vindo ao mundo das cordas, madeiras e metais. Aqui você encontrará minhas impressões sobre diversos concertos de música erudita realizados na cidade do Rio de Janeiro. Também compartilhará dos meus devaneios sobre o mundo dos clássicos e algumas dicas de programas, filmes e discos. Só peço a cortesia de fazerem silêncio durante o concerto (e nada de ficar desembrulhando balinhas). Obrigada!

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

A fila anda e a gente bate palmas

13.IX.2012


Quantas vezes a gente já não passou por essa cena? Uma mulher sofrendo por um grande amor perdido, se desespera, chora, grita e quer morrer. As pessoas ao seu redor tentam em vão animá-la. Os homens a bajulam sem efeito e as mulheres tentam consolar um coração empedrado. “A fila anda” dizem. “A vida é assim mesmo. Daqui a pouco você estará suspirando por outro, ou outros.” E não é que é verdade?

Richard Strauss na sua genialidade elevou essa situação corriqueira ao status de arte em Ariadne auf Naxos (claro que não foi o único, mas achei essa obra especialmente eloquente). Nesta última segunda-feira, a OSB Ópera e Repertório, sob a simpática batuta de Eugene Kohn, trouxe as dualidades e contrastes dessa ópera ao palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. E eu estava lá, na primeira fila!

A música é linda, intensa, dramática, sedutora e divertida alternadamente. Os músicos da orquestra formaram um grande grupo de solistas, cada um com voz própria (e que vozes!!!). Destacaram-se os spallas dos violinos e violoncelos, assim como a flauta, clarineta, oboé e as trompas. Além do festival de belos solos, a sonoridade do conjunto tava muito redonda e macia apoiando a trama que se desenrolava diante da orquestra.

A mise-en-scène dos cantores, mesmo sem cenário ou figurinos, foi bem-vinda. As cenas cômicas com Ignacio de Nonno, Ricardo Tuttman, Murilo Neves e Ivan Jorgenssen, além de musicalmente agradáveis foram divertidíssimas, realmente transportando a plateia pra dentro da história. Juliana Franco, enquanto interagia com eles convenceu como uma Zerbinetta um pouco contida, mas quando deixada a só no palco, perdeu a personagem, infelizmente. O mesmo não pode ser dito da Ariadne de Eliane Coelho. O seu canto e seu semblante deram asas à música de Strauss e me remeteram ao sofrimento intenso daquela mulher abandonada em uma ilha, aguardando o Senhor da morte. O Baco que veio salvá-la tinha a bela voz de Juremir Vieira, mas a dramaticidade de um ator de novela mexicana. (Ih! Me esqueci de falar nas ninfas. Acho que isso já diz tudo...).

Ilha, ninfas, mulheres apaixonadas, galãs, bruxas e barcos. O enredo dessa ópera é uma confusão danada. Também pudera, pois ela é o resultado da junção de duas óperas, dentro de uma terceira. Quem já não sabia disso, ficou sem saber porque o prólogo foi suprimido da produção e o pobre texto do programa não faz menção à origem da história. Eu não chamaria de “versão original de 1912” uma reprodução de apenas metade da obra, mas considerando que esse formato completo com peça, balé e ópera não foi sucesso nem na época da sua estreia, a opção mais curta para uma ópera em forma de concerto foi um acerto. Que venham os piratas!

Nenhum comentário:

Postar um comentário