Subiu a cortina

Caro leitor,

Seja bem vindo ao mundo das cordas, madeiras e metais. Aqui você encontrará minhas impressões sobre diversos concertos de música erudita realizados na cidade do Rio de Janeiro. Também compartilhará dos meus devaneios sobre o mundo dos clássicos e algumas dicas de programas, filmes e discos. Só peço a cortesia de fazerem silêncio durante o concerto (e nada de ficar desembrulhando balinhas). Obrigada!

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Fim da temporada?


07.VIII.2012

O balé Onegin em cartaz no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, com música de Tchaikovsky e coreografia de John Cranko, pode ser a última grande produção do ano então não percam!

A obra é baseada em um poema de Alexander Pushkin e conta o drama de um amor impossível entre uma mocinha do campo e um aristocrata metido. A primeira audição deve ter sido um escândalo na época, pois a mocinha tem sonhos eróticos e ainda por cima rejeita o cara de forma enfática no final (não contei nada que o programa já não fale)! Os aplausos entusiasmados ao final do espetáculo de domingo recompensaram uma linda e intensa performance do corpo de baile do TM, com Márcia Jaqueline e Filipe Moreira nos papeis principais. Também merecem destaque os bailarinos Karina Dias, Cícero Gomes e Moacir Emanoel que desempenharam seus papéis com grande competência técnica e dramática. Alias, dá gosto testemunhar tamanho investimento na interpretação dos personagens. Além de um belo cenário e figurinos caprichados, é isso que possibilita a suspensão da realidade que o público busca quando vai assitir a um balé ou uma ópera. O corpo de baile está de parabéns pela constante evolução e maturidade artística e deveria ser motivo de orgulho de todo cidadão do Estado do Rio de Janeiro.

Não podemos esquecer, no entanto, que a magia não vem apenas do palco. A música que subia do fosso para a plateia nesse final de semana não incluía as melodias mais conhecidas do grande compositor russo mas era ela que conduzia a história e a emoção. A sonoridade da OSTM conseguiu vencer as profundezas do fosso, criando o clima de festas, duelos, chamegos e rejeições. Alguns belos solos ainda pareciam ecoar as poéticas palavras de Pushkin, com menção honrosa para a flauta, a clarineta e a viola.

Depois de uma noite tão agradável, desfrutando de um programa cultural de alto nível, acho no mínimo lastimável que o Estado esteja cortando o orçamento do TMRJ e, consequentemente, encurtando uma temporada que já havia sido prejudicada pela queda do edifício vizinho no início do ano. No meio de uma Olimpíada, disputa eleitoral, greves de vários setores da sociedade, pode parecer futilidade reclamar do cancelamento de algumas óperas mas não é! Não existe substituto para o corpo artístico do TM no Estado do Rio de Janeiro! Essa instituição tem a função de levar cultura para a população e o tipo de produção que ela monta não tem similar por aqui (podem me corrigir se eu estiver errada). A suspensão dessas atividades do Theatro é um desperdício de dinheiro público e não uma economia uma vez que os funcionários ficam ociosos por ordem do governador (e depois ainda correm o risco de serem acusados de corpo mole)!

Alô Sergio Cabral! Cultura não é supérfluo! Cultura é identidade, bem-estar e qualidade de vida pois ela reflete o que o ser humano faz de mais bonito, nos dando forças para enfrentar o que ele faz de mais desprezível.

Nenhum comentário:

Postar um comentário