Subiu a cortina

Caro leitor,

Seja bem vindo ao mundo das cordas, madeiras e metais. Aqui você encontrará minhas impressões sobre diversos concertos de música erudita realizados na cidade do Rio de Janeiro. Também compartilhará dos meus devaneios sobre o mundo dos clássicos e algumas dicas de programas, filmes e discos. Só peço a cortesia de fazerem silêncio durante o concerto (e nada de ficar desembrulhando balinhas). Obrigada!

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Vontade de morte


27.VIII.2012

Que bom que réquiens já entraram para o repertório de salas de concertos, assim não preciso morrer nem matar ninguém para ouvir uma música tão bonita quanto essa escrita por Verdi. A interpretação da obra do compositor italiano pelo Coro e Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, regidos por Leo Hussain, na última sexta-feira, foi estonteante. Já nas primeiras notas, o clima de descanso eterno foi criado misturando tristeza e leveza enquanto o coro murmurava o início da missa. Esse réquiem tava prometendo fortes emoções!

Quando o Dies irae chegou, a cólera divina tomou conta da grande sala. Anjos cantavam, a flauta se desesperou, bolas de fogo caiam dos céus, ventos uivavam e os tambores do julgamento rufavam com determinação. Um a um os trompetes anunciaram que o fim era apenas o começo. Quando tudo se acalmou, o baixo parecia olhar para o corpo na sua frente, que logo deveria erguer-se para enfrentar o julgador. Não tinha jeito, seu nome estava escrito no grande livro e não haveria escapatória. O fagote então liderou o pedido pela salvação da sua alma. A ele se juntaram os quatro solistas e o coro em uma súplica desesperada: “salva me!”

Se dependesse da soprano Eiko Senda e do tenor Marcello Vannucci, ficaríamos todos confutatis junto aos maledictis, mas a mezzo Adriana Clis e o baixo Hernan Iturralde, junto com o magnífico coro e a orquestra, garantiram o requiem. Antes do apagar das luzes, uma última lágrima escorreu pela minha face, ao som das violas e violoncelos lacrymosos.

Aos poucos, surge uma luz no meio dos violinos. Começa fraquinha e vai ganhando intensidade. Finalmente somos libertados com a lembrança que a luz continuará a brilhar mas que outros dias de cólera voltarão. Se eu fosse a morte, essa seria a trilha sonora que eu escolheria para embalar os meus dias.

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