Subiu a cortina

Caro leitor,

Seja bem vindo ao mundo das cordas, madeiras e metais. Aqui você encontrará minhas impressões sobre diversos concertos de música erudita realizados na cidade do Rio de Janeiro. Também compartilhará dos meus devaneios sobre o mundo dos clássicos e algumas dicas de programas, filmes e discos. Só peço a cortesia de fazerem silêncio durante o concerto (e nada de ficar desembrulhando balinhas). Obrigada!

domingo, 4 de novembro de 2012

Metaleiros atormentados

15.XI.2011 Lamento frustrar os amigos roqueiros, mas essa nota é sobre outro tipo de metal... No último domingo fui assistir à apresentação do Art Metal Quinteto que me proporcionou numerosas experiências inéditas: 1. Um concerto de música realizado no Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) é no mínimo curioso. No entanto, o espaço é bonito, bem mantido, confortável e muito funcional para esse tipo de evento. Os alunos do INES ainda foram inseridos na programação do 49o Festival Villa-Lobos, que contou com uma palestra sobre a história da música brasileira com a presença de intérpretes para a língua de sinais. Soube que os intérpretes criaram sinais específicos para codificar cada um dos nossos compositores e achei o máximo o Villa-Lobos ser caracterizado pelo seu charuto. Não percebi a presença de nenhum surdo no concerto, que só de estar dentro desse contexto, já levantou diversos questionamentos: a música pode ser apreciada por deficientes auditivos? Que tipo de adaptação pode ser feita para incentivar esses cidadãos a participarem de eventos musicais? Educação musical para surdos tem fundamento e/ou faz sentido? É possível traduzir a música para a LIBRAS? Não sei a resposta para nenhuma dessas perguntas, mas creio que vale a pena refletir sobre o assunto. Ao lembrar que a nona sinfonia de Beethoven foi composta por um surdo, começo a vislumbrar o desperdício de potenciais talentos por puro preconceito...
2. Um quinteto de metais foi novidade no meu repertório de ouvinte. Minhas experiências anteriores com grupos semelhantes se limitavam a brass bands americanas e africanas (por sinal, muito boas!), mas sempre com outros elementos como madeiras e percussão. Além disso, o repertório me surpreendeu pela versatilidade. Acostumada a associar os metais a força, grandiosidade e potência, encantei-me com as possibilidades de ritmo, delicadeza e maciez que eles proporcionam. É claro que ter músicos desse calibre ajuda pacas!
3. Descobri que uma marcha pode ser delicada e requintada! Adoraria ouvir a Marcha Militar no. 3 de Neukmomm ou a Marcha Marques de Pombal de Henrique Alves de Mesquita sendo executadas numa parada de 7 de setembro! Daria um outro tempero à coisa...
4. Guerra-Peixe também serve para dançar!
5. É possível sim tocar as Bachianas Brasileiras no. 8 com apenas dois trompetes, uma trompa, um trombone e uma tuba contanto que o Eliezer Rodrigues esteja tocando tuba. O homem vale por pelo menos três naipes, incluindo toda a percussão! Chega a ser surreal! Seu solo do terceiro movimento de Metalessência (Raul do Valle) fez tremer a fundação do auditório e calou todo e qualquer ruído num passe de mágica. E já que eu falei de Metalessência, vale destacar o maravilhoso segundo movimento dessa obra contemporânea. Antonio Augusto (trompa) só faltou levantar voo em uma demonstração de profunda satisfação e encanto.
Um ponto importante de concertos em festivais é o contato direto do artista com o público. Neste quesito, o quinteto também está muito bem servido. Todas as peças foram contextualizadas de forma informativa, simpática e agradável. Não só isso, sorrisos, olhares e posturas corporais ajudaram a transmitir as notas das reviravoltas dos instrumentos para as reviravoltas dos nossos labirintos, atormentando o cérebro nesta doce ilusão que é a música.

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