Subiu a cortina

Caro leitor,

Seja bem vindo ao mundo das cordas, madeiras e metais. Aqui você encontrará minhas impressões sobre diversos concertos de música erudita realizados na cidade do Rio de Janeiro. Também compartilhará dos meus devaneios sobre o mundo dos clássicos e algumas dicas de programas, filmes e discos. Só peço a cortesia de fazerem silêncio durante o concerto (e nada de ficar desembrulhando balinhas). Obrigada!

domingo, 4 de novembro de 2012

Um violão de 150 cordas

21.X.2011 Uma orquestra sinfônica pode ser intimidadora. São muitos músicos sobre o palco, frequentemente com o semblante compenetrado, regidos por um senhor de fraque e batuta, tocando músicas longas com títulos como Concerto para oboé e fagote em si bemol, opus 68, de Ristrosky (esse aí, eu que inventei) e você nunca sabe quando pode ou não bater palmas. Para quem não sabe direito o que é um fagote, que som tem um bemol e quem diabos é Ristrosky, isso não é nem um pouco atraente. Além disso, muitos não gostam da pompa do Teatro Municipal, das casacas, da chamada "alta sociedade" que frequenta os concertos. Por outro lado, os puristas são contra microfones, concertos informais, músicos vestindo jeans e arranjos que "rebaixam" a música erudita ao status "popular". Para esses, a música de Bach, Beethoven e companhia não é uma mera trilha sonora e merece um requinte e uma atmosfera à altura. Como diz minha mãe, cada macaco no seu galho... Pessoalmente, adoro a pompa. Quando era mais nova, eu me sentia um pouco princesa, subindo as escadas das casas de ópera, seguindo o tapete vermelho, toda arrumada para ouvir Mozart. Em contrapartida, o concerto mais emocionante que já assisti foi um evento gratuito, na Escola de Música da UFRJ, com a sala superlotada, um calor de matar e os músicos tocando de camiseta preta. Um dos meus discos prediletos é o S&M do Metallica que junta uma banda de heavy metal com uma orquestra sinfônica. Acordo todos os dias ouvindo a radio MEC, mas fico mal humorada com o som de cravo às sete horas da manhã. Amo igualmente a unidade de uma orquestra com o distanciamento do palco como a individualidade dos músicos de um conjunto de câmara, a uma proximidade que me permite escutar a respiração do violoncelista. Conclusão, a música erudita cabe em qualquer lugar e em qualquer momento (menos o cravo às sete horas da manhã). A Orquesta Petrobras Sinfônica parece concordar comigo e passou esse último ano provando o meu ponto. Duas séries no TMRJ, uma nas igrejas do Rio de Janeiro, uma no Teatro Oi Casa Grande e ainda a série Metrônomo e os Concertos Abertos na Fundição Progresso (para o meu desespero, estão todas chegando ao fim). Se isso não for versatilidade, eu não sei o que é. A mais popular dentre elas, no entanto, é a Série Oi Casa Grande que teve até promoção em site de compras coletivas. O quarto e último concerto da série, realizado nesta quarta-feira, trouxe o violonista Marco Pereira tocando composições próprias, todas com títulos compreensíveis (Violão vadio, Suite das Águas, Círculo dos Amantes e Irene).
Sempre que escuto um músico popular se apresentando acompanhado de uma orquestra me pergunto "como ele poderá voltar a tocar sem orquestra agora?". Canções medíocres ganham novas cores, músicas boas tornam-se mágicas, as animadas ficam mais fortes e as delicadas mais tocantes. Desta vez, não foi diferente. O som do violão se fundiu perfeitamente ao das cordas e as madeiras destacaram a melodia. A percussão mantinha o ritmo bem tupiniquim enquanto os metais injetavam energia e/ou arredondavam o conjunto da obra. O resultado final foi um show de MPB super vitaminado, gostoso a beça de escutar. Só foi curto, apenas quatro músicas. Deixo a dica para uma próxima investida: façam o show inteiro com o convidado nos mesmos moldes do memorável show do Edu Lobo em apoio aos músicos demitidos da OSB (até porque as duas primeiras obras foram totalmente ofuscadas pela atração principal). Estou curiosa e ansiosa para saber o que a Direção Artística da OPES tá matutando para 2012...

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