Subiu a cortina

Caro leitor,

Seja bem vindo ao mundo das cordas, madeiras e metais. Aqui você encontrará minhas impressões sobre diversos concertos de música erudita realizados na cidade do Rio de Janeiro. Também compartilhará dos meus devaneios sobre o mundo dos clássicos e algumas dicas de programas, filmes e discos. Só peço a cortesia de fazerem silêncio durante o concerto (e nada de ficar desembrulhando balinhas). Obrigada!

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Um triângulo em quatro partes


22.IV.2012

Hoje é dia de estréia, bebê! Mais especificamente, a estréia mundial da ópera "Piedade" encomendada ao compositor João Guilherme Ripper pela Orquestra Petrobras Sinfônica. No libreto, um dos triângulos amorosos mais famosos da história do Brasil, que resultou na morte de Euclides da Cunha. No palco, uma coletânea dos melhores músicos de orquestra do Rio de Janeiro. Na platéia, músicos, produtores, compositores, maestros, diretores, escritores e assinantes, todos curiosos e ávidos por serem as primeiras testemunhas da obra.

A história foi contada em quatro cenas, cada uma precedida de versos projetados no palco ao som do eloquente violão de Paulo Pedrassoli. As palavras do próprio Euclides anunciavam a tragédia, mas teriam sido melhor aproveitadas se fossem faladas. Os três personagens transitando pelo palco tal como fantasmas pouco agregaram ao clima dessas introduções e poderiam ter sido suprimidos. Alias, a direção de cena surpreendeu negativamente, mas foi o único ponto do espetáculo que não correspondeu (ou mesmo superou) às expectativas.

Cena 1: Euclides (Homero Velho) relata à sua esposa suas experiências no sertão durante a guerra de Canudos. No telão, imagens do conflito eram projetadas, contribuindo para a ilustração do texto. As palavras e a música se uniram na composição do drama sertanejo com intensidade e paixão, também refletidas na performance do barítono. O entusiasmo de Euclides logo contrasta com a carência de Ana (Paula Almerares), abrindo alas para o desenrolar dos acontecimentos.

Cena 2: Ana e Dilermando iniciam seu romance. Apesar da ótima atuação de Marcos Paulo, que entre os solistas foi o que melhor encarnou seu personagem, a cena foi dominada pela soprano e marcada pela primeira bela ária da peça. A canção sobre a dor de um amor distante comoveu a platéia que aplaudiu calorosamente a sua interpretação e deve entrar para o rol de músicas que escutamos no "repeat" durante a fossa de um término de relacionamento.

Cena 3: Dilermando e Euclides se estranham. Foi a mais curta, porém a mais tensa, das quatro partes da obra. A fantástica interação entre os dois rivais foi caracterizada com a sobreposição das duas vozes de forma alternada resultando naquela maravilhosa confusão que só faz sentido em ópera. Neste ponto, contudo, eu já ignorava o telão que projetava imagens sem sentido de janelas, lenços e xícaras de chá transbordando. Se alguém captou a mensagem, por favor depois me explique...

Cena 4: O duelo e a morte de Euclides. A cena começa com uma canção de amor de Dilermando para Ana, acompanhada apenas pelo violão. Pareceu-me como um toque de bossa nova no meio da ópera: estranho porém lindinho. Depois disso, a orquestra tomou conta! Suspense, temor, ameaça, raiva, honra, justiça, defesa e morte tudo contado por cordas, sopros e percussão num arranjo mais interessante do que as partes cantadas. A ária final que lamenta a natureza humana, responsável por essas tragédias, não me agradou tanto pelo toque religioso (totalmente dispensável nesse caso) mas encerrou com uma bela melodia o tempestuoso conflito.

Acredito que veremos novas montagens dessa ópera no futuro. Enquanto isso, aguardo ansiosa o produto da sua gravação para poder reviver essa tarde dramática e compartilhar essa história.

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