Subiu a cortina

Caro leitor,

Seja bem vindo ao mundo das cordas, madeiras e metais. Aqui você encontrará minhas impressões sobre diversos concertos de música erudita realizados na cidade do Rio de Janeiro. Também compartilhará dos meus devaneios sobre o mundo dos clássicos e algumas dicas de programas, filmes e discos. Só peço a cortesia de fazerem silêncio durante o concerto (e nada de ficar desembrulhando balinhas). Obrigada!

domingo, 4 de novembro de 2012

Vivendo de amor e arte

14.IX.2011 Não entendo muito de sinergia e nem de ópera, mas tive a nítida sensação de ter testemunhado um efeito sinérgico na Tosca de hoje no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Sem sombra de dúvidas, o todo foi maior que a soma das partes e o trabalho em conjunto da orquestra, da composição, do coro e dos solistas, coordenado pelo hábil Silvio Viegas, resultou em uma noite muito rica e prazerosa. Já o cenário só jogou contra... Nada contra uma montagem mais simples e com poucos elementos de cena, mas os panos de fundo estavam um horror! No segundo ato, me senti dentro de uma pintura do MC Escher e a lua projetada no terceiro ato teve até uma falha do Windows. Acho que Carla Camurati "realizou uma operação ilegal" ao se auto-contratar para o cargo e tio Bill resolveu acusar. Um tiro retardatário do pelotão de fuzilamento e a falta de sangue no Cavaradossi torturado também não contribuíram para a mise-en-scène. Alias o Thiago Arancam na pele do Cavaradossi também não ajudou muito. Chega a ser chato criticar quando o cara foi aplaudido de pé, com direito a bis e tudo na ária E lucevan le stelle, mas eu não gostei dele e pronto. Achei a voz fraca e instável e a interpretação digna de galã de Malhação. O desânimo começou logo no início com um fraquíssimo Recondita armonia seguido de uma atuação cheia de caras e bocas e vazia em emoção. Já a soprano Sondra Radvanovsky deu um banho de interpretação e canto. O segundo ato, dominado por Tosca e Scarpia (Juan Pons) esbanjou dramaticidade digna de Puccini. Enquanto o sofrimento da soprano chegava a ser palpável, o crápula do Scarpia transmitia tamanho escárnio, petulância e arrogância que só mesmo apunhalando-o para ter algum alívio. A frase "E então?" sussurrada por Scarpia ao pé do ouvido de Tosca chegou a dar um arrepio na coluna de tão nojenta. Isso que é Teatro! A aguardada Vissi d´arte tampouco desapontou mostrando toda a técnica e potência da voz de Radvanovsky. Apesar do bis ter interrompido a suspensão de realidade necessária numa ópera (espero que não vire moda), Puccini e a OSTM nos trazem de volta ao drama em questão de poucos minutos. Uma ópera equivale a tantos estímulos sensoriais simultâneos que às vezes a orquestra, por estar escondida, fica ofuscada. No entanto, bastava uma olhada rápida no fosso hoje que já ficaria evidente que não seria o caso. Só craque lá embaixo! O resultado foi uma música que nos acaricia nas cenas de amor, nos amedronta nos momentos de tensão e se funde aos demais elementos presentes criando um mood sem chamar atenção excessiva para si. A partitura parece rica em detalhes e em qualquer passagem, ao concentrar na orquestra, é possível identificar um pequeno solo, uma delicada harmonia ou um silêncio estratégico. Pequenos erros de execução não passaram desapercebidos, porém em momento algum quebraram o encanto. A sinergia somou as partes, vez a média, adicionou a beleza do TMRJ (que é um programa em si), o carinho dos amigos reencontrados e uma bela companheira de plateia e a Tosca passou com louvor no meu crivo.

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