Subiu a cortina

Caro leitor,

Seja bem vindo ao mundo das cordas, madeiras e metais. Aqui você encontrará minhas impressões sobre diversos concertos de música erudita realizados na cidade do Rio de Janeiro. Também compartilhará dos meus devaneios sobre o mundo dos clássicos e algumas dicas de programas, filmes e discos. Só peço a cortesia de fazerem silêncio durante o concerto (e nada de ficar desembrulhando balinhas). Obrigada!

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O resultado de um projeto de excelência?

17.VI.2012

Muita gente me pergunta que fim levou a história da OSB sobre a qual tanto falei ao longo do ano passado. Resumidamente, até onde eu sei, a maioria dos músicos que haviam sido demitidos foram readmitidos pela Fundação e formaram o grupo OSB Ópera e Repertório e estão tocando peças bem variadas que pedem uma orquestração menor. Os que permaneceram na orquestra e aqueles que chegaram a entrar na prova de 2011 (furando um boicote internacional, diga-se de passagem) atuam sob a batuta do maestro Roberto Minczuk na realização das séries "principais" da orquestra. Chamo-as aqui de "principais" pois são as séries que contam com as grandes atrações internacionais.

Neste final de semana, uma dessas atrações chamou a minha atenção: Stefan Dohr, primeiro trompista da Filarmônica de Berlim há quase 20 anos. Ele tocaria, ao lado de três colegas, o concerto para quatro trompas (opus 86) de Schumann que é uma das principais peças compostas para esse instrumento. Diante dessa oportunidade e de um simpático convite de companhia, resolvi encarar a OSB e uma maratona de 7 horas de Theatro Municipal (a Petrobras Sinfônica tocou com o Nelson Freire no mesmo dia e arrasou como de hábito, mas isso é assunto para outra nota).

Obviamente, eu estava um tanto apreensiva. Da última vez que compareci a um concerto dessa orquestra pós-crise, não fui exatamente bem recebida. Contudo, tentei sinceramente manter a cabeça aberta para uma avaliação pouco tendenciosa do trabalho desses músicos (para ser totalmente neutra, só se eu tivesse sangue de barata). Afinal, pouco se fala desses concertos e eu não tinha ideia do que esperar.

O Canto em memória de Benjamin Britten, de Arvo Pärt, abriu a noite (http://www.youtube.com/watch?v=sp2oxWdRMuk), mas o que deveria soar como um "om" meditativo ficou mais para um "bzzzz" inexpressivo. Faltou volume? Faltou intensidade? Faltou saudades de um mestre? Não sei. Mas faltou. Salvou-se o sino.

O concerto para quatro trompas impressionou pelos solistas (Stefan Dohr, Luiz Garcia, Thiago Ariel e David Griffin) que tocaram muito bem uma peça de altíssimo grau de dificuldade (segundo me disseram os trompistas que lotaram metade do balcão nobre). A criatividade do compositor para combinar, desencontrar, dialogar e torturar as trompas é inacreditável e uma novidade no repertório é sempre bem vinda. Quanto à grande atração internacional, confesso que não achei nada surpreendente. O cara tem uma destreza inquestionável, mas não correspondeu às minhas expectativas, que talvez tenham sido exageradamente elevadas. Acho que eu tava esperando uma trompa encantada e a sua reles humanidade me desapontou. Ou talvez os nossos trompistas por aqui, que me servem de referência, também sejam encantados...

Para encerrar a noite, a interminável sinfonia no. 7 de Bruckner caiu como um castigo. Pode até ser que, àquela altura, meu cérebro já estivesse saturado de notas musicais ou que meu cansaço já estivesse vencendo minha boa vontade com essa orquestra jovem (não era a OSBJ tocando, mas a OSB tá com cara e som de principiante). Além disso, uma violinista uma vez me disse que se a música não consegue me atingir, a culpa não é minha e sim de quem está sobre o palco. Pois essa sinfonia passou muito longe de mim e de muitos colegas de plateia que pareciam (e se declararam) aliviados com o seu término. Culpa do Bruckner, dos músicos, do maestro?

Por diversos motivos, a OSB não me traz mais o estímulo que busco numa sala de concertos. Alguns bons músicos polvilhados pelos naipes, grandes solistas ou maestros convidados não dão conta de compensar por falhas mais intrínsecas. O povo aplaude e um “maravilha” continua ecoando na grande sala, mas eu, Amanda, não volto mais.

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