Subiu a cortina

Caro leitor,

Seja bem vindo ao mundo das cordas, madeiras e metais. Aqui você encontrará minhas impressões sobre diversos concertos de música erudita realizados na cidade do Rio de Janeiro. Também compartilhará dos meus devaneios sobre o mundo dos clássicos e algumas dicas de programas, filmes e discos. Só peço a cortesia de fazerem silêncio durante o concerto (e nada de ficar desembrulhando balinhas). Obrigada!

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O santo metal e a ópera no jardim

07.V.2012

Final de semana com dobradinha de música clássica, para a nossa alegria!

Missão de sábado: Concerto em homenagem aos 400 anos da morte de Giovanni Gabrielli com o grupo de metais da Orquestra Petrobras Sinfônica na Igreja São Judas Tadeu.

Eu tava achando desnecessário apelar para o santo das causas impossíveis até dar uma olhada no programa: oito peças de seis compositores diferentes, cobrindo 400 anos de música em uma hora de apresentação usando “apenas” trompas, trompetes, trombones e uma tuba. Metaleiro é tudo meio doido mesmo...

Apesar do homenageado da tarde ter sido o Gabrielli, foi Vivaldi com seu concerto para dois trompetes que roubou a cena. Os solistas Nelson Oliveira e Vinícius Lugon dialogavam como velhos amigos que terminam as frases um do outro e o arranjo ficou tão delicado que eu até esqueci que não eram cordas acompanhando a conversa. Duzentos anos mais tarde, Gustav Mahler arrancou lágrimas da plateia com uma bela versão de Nun Will die Sonn’ so hell aufgeh’n que terminou com um melancólico trompete, pairando só sobre o eco da igreja.

Entre a abertura Bachiana e o encerramento superpop com Luiz Gonzaga, o concerto ainda teve mais uma surpresa: uma fantasia do Francisco Braga, baseada na ópera Lo Schiavo de Carlos Gomes, que não era executada há mais de cem anos! Alguns detalhes certamente se embolaram na reverberação do ambiente, mas a tarde deixou um gostinho de quero-mais-fantasias, de preferência com cores, máscaras, glitter e muitos metais!

Missão de domingo: A ópera “O rei pastor” de W.A. Mozart interpretada em forma de concerto pela OSB Ópera e Repertório no Espaço Tom Jobim.

Apesar de uma produção horrorosa, a orquestra e os solistas salvaram a estreia da série lírica. As duas sopranos Chiara Santoro e Marina Considera, interpretando Aminta e Elisa respectivamente, chamaram atenção tanto pela qualidade vocal quanto pela expressividade na interpretação das árias. Os dois tenores, Jacques Rocha e Ivan Jorgensen, também se saíram muito bem, deixando a tensa Laila Vazen aquém dos seus colegas de palco. Alias, a moça parecia nervosa do início ao final da apresentação, comprometendo bastante a sua performance e deixando-a com um ar de Luna Lovegood.

A orquestra, regida pelo experiente Henrique Morelenbaum, fez a sua parte com grande destreza, mas ficou em segundo plano. A abertura ficou com a sonoridade um pouco comprometida, mas isso não se repetiu ao longo do espetáculo e o conjunto pareceu muito bem entrosado. O spallaPablo de Leon ainda destacou-se no belo duo L´amero saro costante com a soprano Chiara Santoro.

Apesar da qualidade musical, se a direção artística dessa série não melhorar, ela terá sérios problemas. A supressão dos trechos de ligação entre uma ária e outra prejudicou bastante a unidade da obra. Além disso, os solistas se retiravam ao final de cada canção, quebrando o ritmo e tornando a dinâmica da noite muito cansativa. Nesse formato, tanto faria tocar uma única ópera ou árias desconexas de diversos compositores. O texto do programa, que deveria guiar o público, estava temerosamente mal escrito e exageradamente sucinto. Na tentativa de reparar o erro, o diretor Fernando Bicudo ainda subiu no palco no início de cada ato para ler (mal) a sinopse que ele baixou da Wikipedia (é sério!!!!) e imprimiu num papelzinho amassado que guardou no bolso. Era melhor não ter feito nada e se poupado o constrangimento. Pegou mal e revelou uma total falta de esmero com essa série, em forte contraste com o que foi demonstrado pelos músicos no palco. Espero que não se repita...

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