Subiu a cortina

Caro leitor,

Seja bem vindo ao mundo das cordas, madeiras e metais. Aqui você encontrará minhas impressões sobre diversos concertos de música erudita realizados na cidade do Rio de Janeiro. Também compartilhará dos meus devaneios sobre o mundo dos clássicos e algumas dicas de programas, filmes e discos. Só peço a cortesia de fazerem silêncio durante o concerto (e nada de ficar desembrulhando balinhas). Obrigada!

domingo, 4 de novembro de 2012

A multiplicidade de uma única flauta

10.XI.2011
O que a maioria dos cariocas faria num dia de folga em plena quinta-feira de sol no Rio de Janeiro? Praia, claro. Pois para mim, folga durante a semana é dia de Música no Museu (é vício, fazer o que?). O Festival Internacional de Sopros é sempre uma boa pedida, mas a apresentação de hoje estava cheia de bônus. Bônus 1: O Real Gabinete Português de Leitura é uma lugar mágico. Eu já tinha visto na TV, em revista, no jornal, mas nada poderia ter me preparado para o impacto que foi entrar na sala da biblioteca. Livros, livros e mais livros, um lustre de vampiro, colunas retorcidas, mesas de madeira maciça, veludos, claraboia. Eu penetrei um portal de tempo-espaço e fui transportada para uma dimensão paralela, muito mais charmosa do que os arredores da Uruguaiana do século XXI. Eternos agradecimentos aos patrícios pelo presente! Bônus 2: Primeira audição mundial de uma obra do Ernani Aguiar (Improviso e choro sobre um motivo Koellreuter). Eu que não entendo absolutamente nada de composição, mas que tenho escutado várias obras do referido autor, acho ele o máximo! A sua música tem ritmo, leveza, humor, delicadeza e força, tudo ao mesmo tempo ou sucessivamente, dependendo da obra. Nesse caso, o ritmo certamente se destacou, principalmente no segundo trecho. Haja fôlego pra tocar isso na flauta! Bônus 3: Concerto didático! Tem artista que sobe no palco, toca, agradece os aplausos e vai embora. Se tocar bem, nada contra. Mas sou partidária da ideia que o público aprecia muito melhor uma obra quando tem um pouco mais de informação sobre ela. Não é todo mundo que consegue ser um bom músico e um bom locutor, mas o Eduardo Monteiro parece dominar ambas as artes. Os curtos discursos antecedendo cada obra chamaram atenção para o contexto histórico da composição, o estilo musical, a característica pessoal do compositor, um traço particular da obra ou até um causo por trás da música. Tudo isso com direito a piadas e exemplos. Destaco também o encadeamento do programa: pai e filho, mestre e pupilo, uma obra referenciando a outra... É muito mimo! Para ser sincera, eu não estava segura que iria gostar de um concerto de flauta solo. Nunca tinha ido a nenhum (depois fiquei sabendo que realmente não são muito comuns) e tava com a impressão que pudesse ser um pouco monótono. Afinal, normalmente a gente vê a flauta acompanhada de cravo, harpa, piano, cordas etc... Acontece que a flauta pode ter várias vozes e elas dialogam, concordam, brigam, cantam juntas, choram, consolam ou namoram. Tudo depende da criatividade do compositor e da qualidade do intérprete. A flauta do Eduardo Monteiro mostrou hoje suas múltiplas personalidades abrangendo de uma bateria de roda de samba ao som mais triste emitido por um junco encantado. Bravo!

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