Subiu a cortina

Caro leitor,

Seja bem vindo ao mundo das cordas, madeiras e metais. Aqui você encontrará minhas impressões sobre diversos concertos de música erudita realizados na cidade do Rio de Janeiro. Também compartilhará dos meus devaneios sobre o mundo dos clássicos e algumas dicas de programas, filmes e discos. Só peço a cortesia de fazerem silêncio durante o concerto (e nada de ficar desembrulhando balinhas). Obrigada!

domingo, 4 de novembro de 2012

Da escola à igreja

02.X.2011 A semana foi movimentada: Trio UFRJ, Orquestra Sinfônica da UFRJ e Petrobras Sinfônica com Quarteto Rio de Janeiro! Isso porque eu ainda perdi o Quarteto Bosísio e o Quarteto Guanabara por incompatibilidade de agenda. Curiosamente, durante esta maratona, fui abordada por um dos músicos que queria saber a minha motivação para ir a tantos desses eventos. A resposta é simples: eu gosto! Embaixo do meu esterno, existe um botão imaginário. Quando acionado, ele emite uma vibração por todo o meu corpo que se assemelha a um tsunami, que parte desse ponto focal e vai até a ponta dos dedos do pé. Depois que a onda passa, tudo parece mais leve, mais belo e mais fácil. Acontece que o acesso a esse botão é restrito, mas a música clássica ao vivo, bem tocada, é sempre uma boa aposta para provocar o "swell". Não é a toa que eu assisti a praticamente todos os concertos do Trio UFRJ desde a sua estreia no final de 2010 (acho que perdi um só). Até via rádio esses músicos são capazes de me emocionar e o concerto desta semana não foi diferente. No programa, o Trio Miniatura do Gnattali merece uma aprofundada, mas os trios de Guerra Peixe e Mendelssohn (Op. 49) estão muito redondos. Já ouvi este último ser interpretado por Marco Catto, Mateus Ceccato e Luciano Magalhães umas três e quatro vezes e ainda não cansei. Parece que a cada vez que escuto, tem novas sutilezas e detalhes que passaram desapercebidos antes. Não sei se sou eu que estou me familiarizando com a obra ou se são eles que estão ficando cada vez melhores, mas no final das contas eu sempre saio muito satisfeita. Só não gostei de ver o salão Leopoldo Miguez, na Escola de Música da UFRJ, vazio. Acho inconcebível que tenha músicos desse calibre se apresentando de graça para uma plateia tão reduzida, mas esse assunto dá pano pra manga e merece uma nota própria então deixemos ele de lado por enquanto... Voltei à Escola de Música menos de 24 horas depois do concerto do trio para o lançamento do CD "Música brasileira de concerto para fagote". Os concertinos de Francisco Mignone e Eduardo Biato são simplesmente o máximo e o CD ainda traz obras de outros cinco compositores, todos ligados à EMUFRJ. Nunca pensei que eu fosse gostar tanto de fagote, afinal todos sabem da minha predileção pelas cordas (está estampada no meu ombro esquerdo), mas fiquei encantada com o solista e estou há dois dias escutando o CD no "repeat". Saí do concerto ainda com três presentes: (1) a noção que as orquestras brasileiras poderão contar com mais uma geração de talentosos músicos para compor seus naipes; (2) um CD autografado pelo fagotista Aloysio Fagerlande e pelo flautista Eduardo Monteiro e (3) uma linda execução da Sinfonia no. 8 de um dos meus compositores prediletos: Antonin Dvorák. Nessas horas, dá um senhor orgulho de ser cria da UFRJ. Grande Minerva! E por falar em orgulho, a Petrobras Sinfônica está dando show atrás de show. Como o próprio maestro Carlos Prazeres brincou no início do concerto de hoje, o pessoal do Rock in Rio deve ter morrido de inveja do público que lotou a Igreja Matriz Nossa Senhora da Glória para mais uma apresentação da série Mestre Athayde. Essa é certamente a minha série favorita: a gente fica mais próximo dos músicos, ela tem um ar mais descontraído, é uma oportunidade para conhecer lugares novos no Rio de Janeiro (nunca tinha entrado nessa lindíssima igreja) e é de graça! O programa de hoje começou arrasando com as Danças de Galanta do Kodály e terminou com o público delirando após uma empolgadíssima versão das Danças Polovtsianas do Borodin. Entre a República Tcheca e a Rússia, um pulo no Brasil com o Radamés Gnattali e seu Concerto para Quarteto de Cordas. Isso mesmo! Concerto para quarteto! Confesso que fiquei desconfiada se isso ia dar certo, mas com o Quarteto Rio de Janeiro, eu não tinha o que temer. Composto por quatro músicos da própria OPES (Felipe Prazeres, Gustavo Menezes, Ivan Zandonade e Marcus Ribeiro), a impressão é que, no final das contas, trata-se de um concerto para um único instrumento mesmo, tamanho o entrosamento entre eles. Olhares, sorrisos, caretas e posturas completaram a música e deixaram bem evidente o gosto desses artistas (quarteto e orquestra) pelo seu trabalho. Semana que vem teremos a apresentação do Quarteto da OPES. Adivinha se eu vou? Será tsunami na certa!

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