Subiu a cortina

Caro leitor,

Seja bem vindo ao mundo das cordas, madeiras e metais. Aqui você encontrará minhas impressões sobre diversos concertos de música erudita realizados na cidade do Rio de Janeiro. Também compartilhará dos meus devaneios sobre o mundo dos clássicos e algumas dicas de programas, filmes e discos. Só peço a cortesia de fazerem silêncio durante o concerto (e nada de ficar desembrulhando balinhas). Obrigada!

domingo, 4 de novembro de 2012

O que chamamos "música", com outro nome não teria som igual?

20.X.2011
Quem estiver cansado dos meus elogios constantes ao Teatro Municipal do Rio de Janeiro pode parar de ler aqui mesmo. Assisti nesta terça-feira a uma linda récita do balé Romeu e Julieta com música de Sergei Prokofieff tocada pela OSTM e coreografia de John Cranko dançada pelo corpo de baile do Teatro. Nos papéis principais, Renata Tubarão e Cícero Gomes encarnaram as personagens de uma forma apaixonante. A leve, lépida e inocente Julieta dos dois primeiros atos assume uma impressionante carga dramática na terceira parte da história. Já o jovial e brincalhão Romeu convence e encanta com sucessivas emoções: deslumbramento, inquietação, desespero, melancolia, amor e dor. Ambos excelentes bailarinos (ela um pouco melhor do que ele), se destacam principalmente pela bela presença de palco e expressividade facial e corporal. Alias, ouso dizer que todos os integrantes do corpo de baile desempenharam seus papéis com maestria teatral, desde as meninas da praça até o tragicômico Mercúcio (sempre o meu personagem predileto da trama). A coreografia em si chama atenção pelos elementos acrobáticos, quase circenses, das cenas de rua. As lutas com espadas, com direito a laranjas voando e figurantes migrando de um lado para o outro do palco nos puxam para dentro da história. Já os dois grandes pas-de-deux do casal (a cena do balcão e a manhã de núpcias) contrastam incrivelmente em tom e humor seguindo o desenrolar dos acontecimentos. A cena da morte do Mercúcio merece um destaque especial não só pela grande atuação do bailarino e pela sutileza da coreografia mas também pela sincronia cirúrgica entre os movimentos, o clima e a música. Para ser sincera, não sei nem como começar a falar da joia que é essa composição. O tema que apresenta a Julieta no início do primeiro ato é uma delicada pluma. O imponente e famoso trecho que domina a festa da casa dos Capuleto é de arrepiar mesmo o mais insensível dos espectadores. Já a melodia que acompanha a cena do balcão poderia ser engarrafada e vendida como elixir do amor. As mortes de Mercúcio e Teobaldo jamais teriam o mesmo impacto caso a trilha fosse outra e o grand finale que me deixou com um nó na garganta é digno de um grande russo! Não preciso nem dizer (mas vou falar mesmo assim) que a orquestra do teatro foi um grande protagonista dessa história. Com exceção do início do segundo ato, quando o volume me pareceu baixo em relação à quantidade de coisas que estavam acontecendo no palco, o som combinou com as ações na mais perfeita harmonia. Se houve falhas, não foram perceptíveis. Maestro e músicos estão mais uma vez de parabéns. Destaco principalmente a flauta, a clarineta e o oboé (alguém por favor me diga o nome dos músicos) que tocaram solos de partir o coração. E as cordas... E a tuba... E as trompas... E os tímpanos... Ahhhhh! Por isso que eu não destaco ninguém! É mais fácil listar aqui abaixo os nomes desses profissionais que ficam escondidinhos e apertadinhos no fosso, que não têm foto no programa, mas que sustentam toda e qualquer emoção criada, passada e sentida na grande sala.

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